Relatos da estudiosa que teve a obra de Schaden como referência na questão indígena e o conheceu pessoalmente emocionaram participantes da 5ª edição do Diálogos
No dia 4 de maio, a 5ª edição do Projeto Diálogos recebeu a professora Marta Maria do Amaral Azevedo para conversar sobre o tema “Egon Schaden e a questão indígena”. Com extenso currículo ligado aos povos indígenas*, tendo sido inclusive presidenta da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, a demógrafa e antropóloga Marta conheceu o professor Egon Schaden e veio compartilhar suas memórias e experiências antropológicas com os participantes da live.
Com 42 anos de trabalho na área, ela iniciou seu relato contando que desde muito cedo, por volta dos 16 anos, se interessou pelo estudo dos povos indígenas e, já no início dos anos 70, pediu para seu avô o livro “Aspectos Fundamentais da Cultura Guaraní” de Egon Schaden. “Foi um livro que me acompanhou quando eu entrei na Faculdade de Ciências Sociais, eu já queria muito trabalhar com os povos indígenas e conhecia um pouco os Guarani através desse livro. Nunca imaginei depois conhecer o próprio professor Egon Schaden”, relatou.
Em 1978, a então formanda teve oportunidade de trabalhar e morar com o povo Guarani que mora no Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Ela levou um exemplar do livro, que despertou muito a atenção deste povo, pois trata-se de uma edição com muitas fotografias e, de acordo com Marta, foi assim que ela começou a dialogar com o estudioso Schaden, já nos seus primeiros anos de aldeia.
Em 1979, a antropóloga conheceu o padre Bartomeu Melià, que na época já conhecia Egon Schaden. Melià, segundo a definição de Marta, era “um jesuíta, antropólogo e guaranitólogo”. O estudioso era apaixonado pelo povo Guarani e especialista na língua guarani e faleceu em dezembro de 2019.
Em 1982, Marta Maria estava com sua filha mais velha recém-nascida e surgiu a oportunidade de assistir um curso com Schaden, que lecionava então na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo. Ela contou de sua preocupação, à época, em frequentar o curso com um bebê: “Eu me apresentei para ele, expliquei, e ele foi supersimpático, eu estava morrendo de medo porque, enfim, uma pessoa famosa na antropologia, entre os guaranitólogos, uma referência e, era um senhor (de uma certa idade), e eu estava com uma nenenzinha”. Para Marta ela passou a conhecer a pessoa de Schaden, que já conhecia pelas teorias, o professor que tinha uma verdadeira paixão, um sentimento de muito respeito pelos indígenas.
Na sequência da live a professora Marta falou de forma emocionante sobre os encontros que ela presenciou entre o padre Bartomeu Melià e Egon Schaden. Os relatos sensibilizaram as pessoas que acompanharam ao vivo e, certamente, para quem não assistiu, vale muito à pena acessar o canal do youtube do IES e acompanhar.
A apresentação da 5ª edição foi realizada pela presidenta do Instituto, Tânia Welter, e a mediação foi do diretor científico Pedro Martins. Os trabalhos técnicos foram de Aline Martins Hoepers.
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*Marta Maria do Amaral Azevedo é demógrafa e antropóloga, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó /NEPO da UNICAMP e professora do Programa de Pós Graduação em Demografia do IFCH/Nepo/UNICAMP. Membra do Conselho Consultivo do UNFPA (Fundo de População da ONU no Brasil) e coordenadora do GT Demografia dos Povos Indígenas da ABEP (Associação Brasileira de Estudos Populacionais), membra da Comissão Consultiva do Censo Demográfico do IBGE, membra do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental. Foi coordenadora do NEPO, presidenta da Fundação Nacional do Índio – FUNAI (órgão do Ministério da Justiça responsável pela elaboração, proteção e implementação das Políticas Indigenistas no Brasil) e consultora dos Ministérios da Educação e Saúde no que diz respeito à elaboração e monitoramento das políticas públicas para povos indígenas. Possui experiência na área de Demografia, com ênfase em Demografia Antropológica, Demografia de Etnias, atuando principalmente com os seguintes temas: povos indígenas, saúde e educação indígena, demografia, etnologia indígena. Tem trabalhado com os temas de produção de informações demográficas sobre os povos indígenas, indicadores socioambientais das terras indígenas e com os povos Guarani e da região do Alto Rio Negro/AM, abordando os temas de educação, mobilidade espacial, segurança alimentar e acesso às políticas públicas.